terça-feira, 22 de julho de 2014

Parmênides

ParmênidesParmênides

Biografia: Parménides de Eleia foi um filósofo grego. Nasceu entre 530 a.C. e 515 a.C. na cidade de Eleia, colónia grega do sul da Magna Grécia, cidade que lhe deveu também a sua legislação.





Parmênides é um filósofo que expôs seus pensamentos através da poesia em estilo homérico.
Utiliza rigorosos argumentos dedutivos em seus pensamentos.
Fundador da escola de Eléia e despertou muita admiração de Platão.

Restaram de seus poemas 154 versos e eles dividem-se em três partes.

A primeira é uma introdução onde ele coloca como chegou às suas revelações.
Ele nos conta a sua viagem imaginária pela morada da deusa da justiça que o conduzirá ao coração da verdade.

A deusa mostra a Parmênides o caminho da opinião que conduz à aparência e ao engano e o caminho da verdade que conduz à sabedoria do ser.

Cada um desses caminhos será tratado nas duas  partes seguintes.

Na segunda parte ele argumenta que o que é é diferente do que geralmente os homens supõem que seja.

Nessa parte, intitulada Caminho da Verdade (alétheia), ele coloca o que a razão nos diz e ele faz isso através da metafísica dedutiva.

Inicia por premissas que ele acredita serem verdadeiras e por dedução chega a resultados que também devem ser verdadeiros.

Seus argumentos lógicos reconstruídos:

1 - Ou algo existe ou algo não existe.
2 - Se é possível pensar em algo, esse algo pode existir.
3 - Nada não pode existir.
4 - Se podemos pensar em algo esse algo não é nada.
5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.
6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.

Na sequencia Parmênides expõe que somente nos resta dizer que esse algo é, pensar ou dizer que esse algo não é é impossível. Esse algo que é tem portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecível.

Alguns trechos do livro >

1 Vê como ausentes , no entanto, presentes firmemente em pensamento;
2 pois este não apartará o ente do manter-se ente
3 nem se dispersando de toda forma todo pelo mundo,
4 nem se concentrando.

"Clemente, ao citar Parmênides, interpreta livremente as coisas ausentes como as
coisas futuras que ganham presença na esperança do pensamento, conforme a teologia
cristã. Mas no contexto da fala da Deusa as coisas só podem estar ausentes segundo a
opinião dos mortais, sendo presentes quando pensadas com firmeza, pois só há o ente.
Couloubaritsis propõe que este fragmento seja situado na conclusão do discurso das
opiniões, como a chave que reúne esse discurso diacósmico ao pensamento do ser,
proferido na primeira parte da fala divina (Cf. Mythe et philosophie chez Parménide,
1986). Para Marcelo P. Marques “as coisas ausentes, justamente estas coisas que estão à
nossa volta (ou coisas que não são), se tornarão, não propriamente o ser, mas coisas
presentes, isto é, que de algum modo se relacionam com o ser (para-eónta). O modo
inteligente de olhar aproxima coisas distantes (ou seja, não-seres) do ser, tornando-as,
de certa forma, presentes.” Cf. o artigo “Relendo o fragmento 4 de Parmênides”, no
Vol. II desta publicação."

1 Comum porém, é para mim,
2 de onde começarei; pois lá mesmo chegarei de volta outra vez.
"A posição deste fragmento varia segundo o editor. O próprio Diels antes de posicionálo
como quinto, o colocou em terceiro. Barbara Cassin, p. ex., o põe logo depois do
primeiro fragmento. De fato, ele refere-se à indiferença de começar por um ou outro dos
dois caminhos, que já são enunciados desde I, 29-30. Se os dois caminhos são
convergentes e tendem ao encontro, é que, no fundo, trata-se de um único caminho
circular em que, de qualquer ponto, de um ponto comum, saem dois caminhos de
sentido inverso e ambos retornam ao mesmo lugar. Por isso mesmo, este fragmento
pode situar-se em qualquer parte do Poema, de que se fale dos dois caminhos de
investigação.
Xynon é uma palavra densa de conotações, se lembrarmos de seu uso também em
Heráclito, em que determina isto mesmo que é o pensar. O núcleo semântico é a
preposição “syn” que significa “com”, trata-se do “sendo com” que reúne, converge,
comunga e torna indiferente, no sentido etimológico dessa palavra: “o que não separa”.
Tem também a idéia de continuidade e meio comum, que aparece em B XI em que é o
epíteto da palavra Éter. Xynon é um adjetivo, pelo desconhecimento da parte perdida do
verso, seguimos a sintaxe ditada por Proclo, que o cita; assim, lemos que o ponto de
partida é comum. Pensamos, obviamente, no ponto de partida das vias de conhecimento.
Proclo cita estes versos depois do verso 25 de B VIII, em que é dito que o ente é todo
contínuo. A repetição em B XI reforça essa idéia de continuidade. Isso pode explicar
porque qualquer ponto de partida é indiferente, não apenas o das vias de conhecimento,
mas efetivamente o de qualquer jornada, pois o próprio deslocamento seria uma ilusão,
quando se encontra o lugar de onde se partiu."
1 É preciso que o dizer o pensar e o que é seja; pois há ser,
2 mas nada não há; isto eu te exorto a indicar.
3 Pois [____] desta primeira via de investigação,
4 em seguida daquela em que mortais que nada sabem
5 forjam, bicéfalos; pois despreparo guia em frente
6 em seus peitos um espírito errante; eles são levados,
7 tão surdos como cegos, estupefatos, hordas indecisas,
8 para os quais o existir e não ser valem o mesmo
9 e não o mesmo, de todos o caminho é de ida e volta.
A proposição em parataxe abre uma gama de interpretações e traduções possíveis.
Buscamos a que apresentasse a forma quase assindética da sucessão de verbos de modo
mais simples e direto, no sentido integrante de “dizer o que pensa e o que é” como a
ponte da verdade, que vai do ente e do pensamento até a fala. Segundo a correção de
Karsten, adotada por Diels, o verso ficaria assim: “É preciso dizer e pensar que o ente é,
pois é ser.” Diels ainda acresenta em sua tradução “nur”: “que somente o ente é”.
Diels ed. : [afasta-te]; Cordero ed. : [parte]. A opção, entre a conjectura de Diels ou a
de Cordero, para preencher esta lacuna dos manuscritos determina a existência de três
ou dois caminhos de investigação. A opção pelos dois caminhos de conhecimento que
devem ser percorridos pelo sábio, o da verdade e o das aparências (Cordero), nos parece
mais coerente com o todo do Poema, do que os dois caminhos enganosos, do não ser e
das aparências, de que ele deve se afastar para percorrer o único caminho da verdade
(Diels). Deixamos a lacuna, primeiro, por fidelidade aos textos dos manuscritos,
segundo, para que o leitor possa experimentar por si as diversas conjecturas e suas
conseqüências para a interpretação do Poema.
forjam: DEF, Diels; erram Ald.
Cf. vs. 5.2.


Parmênides, Da Natureza

Os corcéis que me transportam, tanto quanto o ânimo me impele, 
conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso 
da divindade, que leva o homem sabedor por todas as cidades. 
Por aí me levaram, por aí mesmo me levaram os habilíssimos corcéis, 
puxando o carro, enquanto as jovens mostravam o caminho. 
O eixo silvava nos cubos como uma siringe, 
incandescendo (ao ser movido pelas duas rodas que vertiginosamente 
o impeliam de um e de outro lado), quando se apressaram 
as jovens filhas do sol a levar-me, abandonando a região da Noite 
para a luz, libertando com as mãos a cabeça dos véus que a escondiam. 
Aí está o portal que separa os caminhos da Noite e do Dia, 
encimado por um dintel e um umbral de pedra; 
o portal, etéreo, fechado por enormes batentes, 
dos quais a Justiça vingadora detém as chaves que os abrem e fecham. 
A ela se dirigiram as jovens, com doces palavras, 
persuadindo-a habilmente a erguer para elas 
por um instante a barra do portal. E ele abriu-se, 
revelando um abismo hiante, enquanto fazia girar, 
um atrás do outro, os estridentes gonzos de bronze,
fixados com pregos e cavilhas. Por aí, através do portal, 
as jovens guiaram com celeridade o carro e os corcéis. 
E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão 
direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: 
“Ó jovem, acompanhante de aurigas imortais, 
tu, que chegas até nós transportado pelos corcéis, 
Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar 
por este caminho – tão fora do trilho dos homens –,
mas o Direito e a Justiça. Terás, pois, de tudo aprender: 
o coração inabalável da verdade fidedigna 
e as crenças dos mortais, em que não há confiança genuína. 
Mas também isso aprenderás: como as aparências 

têm de aparentemente ser, passando todas através de tudo”. 

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