quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Selene/ Diana... A Lua


















Etimologia


A etimologia da Selene é incerta, mas se o nome é de origem grego, é provável que se conecte a palavra selas (σέλας), significando "luz".3
Assim como Hélio, a partir de sua identificação com Apolo, é chamado Febo ("brilhante"), Selene, a partir de sua identificação com Ártemis, também é comumente referida pelo epíteto Phoebe (forma feminina).4 A Phoebe original da mitologia grega é a tia de Selene, a mãe Titânide deLeto e Astéria, e avó de Apolo, Ártemis e Hecate. Também a partir de Ártemis, Selene às vezes era chamada de "Cíntia".5
Selene também foi chamado Mene.6 A palavra de homem (feminino mene), significa a lua, e o mês lunar. Era também o nome do deus frígio da lua Men.7


Endimião era um belo jovem que apascentava seu rebanho no Monte Latmos. Numa noite calma e clara,
Diana, a lua, olhou-o e viu-o dormindo. O frio coração da deusa virgem aqueceu-se ante aquela inexcedível beleza e curvando-se sobre o jovem, ela o beijou e ficou contemplando-o enquanto dormia. Outra versão é a de que Júpiter concedeu a Endimião o dom da perpétua juventude combinada com o sono perpétuo. De uma pessoa tão bem-dotada, não poderemos ter muitas aventuras a mencionar. Diana, contava-se, providenciou para que a fortuna do jovem não sofresse em conseqüência de sua vida inativa, pois fez seu rebanho aumentar, protegendo-o contra as feras. A história de Endimião tem um encanto particular pela significação humana que deixa transparecer. Vemos nele o jovem poeta cuja fantasia e cujo coração procuram, inutilmente, algo que possa satisfazê-lo, encontrando sua hora favorita no tranqüilo luar e alimentando ali, sob os raios da testemunha brilhante e silenciosa, a melancolia e o ardor que o consomem. A história faz lembrar o amor poético e cheio de aspirações, uma vida gasta mais em sonhos que na realidade e uma morte prematura e bem-vinda. Young, no poema "Pensamentos Noturnos", assim alude a Endimião: E Diana 


...Estes cismares São teus, ó Noite! 
São como os suspiros. 
Escapam dos que amam, 
enquanto os outros Tranqüilos dormem. 
Assim, contam os poetas, 
Cíntia, velada pelas sombras, leve. 
Do céu descia e seu pastor fitava, 
O seu pastor que a amava menos, 
Bem menos que eu te amo. 
Fletcher, em "Pastora Fiel", diz: 
Como a pálida Diana caçadora, 
Ao ver Endimião a vez primeira, 
Sentiu no peito o fogo que não morre 
E levou-o, dormindo, para o cimo Do velho Latmos, 
onde, cada noite, 
Com a luz do seu irmão dourando os montes, 
Ia beijá-lo.

Mitos

Escultura romana de Luna ou Diana Lucifera, portando uma tocha
Depois que seu irmão, Hélios, termina sua jornada pelo céu, Selene, recém-banhada nas águas do Oceano que circunda a terra, começa sua própria jornada enquanto a noite cai sobre a terra, iluminada pela radiância da sua cabeça imortal e de sua áurea coroa. Jovem e bela.
Na Arcádia, uniu-se a Pã, que a seduziu disfarçando-se com uma pele de ovelha e depois a presenteou com um rebanho de bois inteiramente brancos que ela usou para puxar seu carro noturno.
Com Antifemo ou Eumolpo, Selene teve o filho Museu, um adivinho renomado e grande músico, capaz de curar doentes com sua arte, que foi amigo inseparável, discípulo ou mesmo mestre de Orfeu.
Seu amante mais célebre, todavia, foi o jovem e formoso Endímion - um caçador ou pastor, segundo a maioria das variantes, ou um rei, segundo Pausânias. Segundo Apolônio, a pedido de Selene, Zeus prometeu a Endímion atender-lhe de imediato a um desejo, por mais difícil que fosse e ele pediu um sono eterno, para que pudesse permanecer jovem para sempre. Maravilhosamente belo, permanecia adormecido na encosta de uma montanha no Peloponeso, ou no monte Latmos, na Cária, perto de Mileto. Noite após noite, Selene descia atrás do monte para visitá-lo e cobri-lo de beijos.

]

Uma variante contada por Cícero relata que o sono mágico foi obra da própria deusa. Adormeceu-o, cantando, a fim de que pudesse encontrá-lo e acariciá-lo sempre que desejasse. Dessa paixão nasceram cinqüenta filhas, as Menas (uma das quais foi Naxos, a ninfa da ilha do mesmo nome) que representam os cinqüenta meses lunares que existem em uma Olimpíada, período de quatro anos que regia o calendário grego.
Existiu um santuário de Endímion em Heracléia, na encosta sul do Latmos, uma câmara em forma de ferradura com um vestíbulo de entrada e um átrio sustentado por pilares.
Este mito contrasta com o de Eos, irmã de Selene que pediu a Zeus imortalidade para seu amante Titono, mas esqueceu-se de pedir também a juventude eterna. Sem poder morrer, o pobre Titono envelheceu e encolheu até se reduzir a um inseto dessecado.

Roma
Em Roma, Luna tinha um templo no monte Aventino, que foi construído no seculo VI a.C. e destruído pelo grande incêndio de Roma no reinado de Nero. Havia também um templo dedicado a Luna Noctiluca ("Luna que brilha à noite") no monte Palatino. Havia festivais em honra de Luna em 31 de março, 24 de agosto e 29 de agosto.

Os lunáticos

Selene é um substituto de mênê, "lua", nome antigo do mês, provavelmente por um tabu lingüístico, uma vez que a lua estava ligada a um mundo perigoso e maléfico, como atesta o verbo selêniazein, "ser ferido pela lua, tornar-se lunático, isto é, epiléptico, convertendo-se desse modo em adivinho ou feiticeiro".

A crença nos poderes maléficos de Selene é atestada em duas passagens importantes do Evangelho de Mateus, 4:24 e 17:15. Na primeira, diz o texto: "e espalhou-se a sua fama (de Jesus) por toda a Síria e trouxeram-lhe todos os que tinham algum mal, possuídos de vários achaques e dores, os possessos, os lunáticos (selêniazoumenous), os paralíticos e curava-os". No segundo, "tendo ido para jundo do povo, aproximou-se dele um homem que se lançou de joelhos diante dele, dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático (hoti selêniazetai) e sofre muito".



Selene, Goddess of the Moon. Selene, daughter of Hyperion and Theia, is a goddess
of the moon. Like her brother Helius, she drives a chariot, although hers
usually has only two horses. The Homeric Hymn to Selene (32) presents a picture.
t Tell in song about the moon in her long-winged flight, Muses, skilled in song,
sweet-voiced daughters of Zeus, the son of Cronus. The heavenly gleam from
her immortal head radiates onto earth. The vast beauty of the cosmos emerges
under her shining radiance. The air, unlit before, glistens and the rays from her
golden crown offer illumination whenever divine Selene, having bathed her
beautiful skin, put on her far-glistening raiment, and yoked the powerful necks
of her shining team, drives forward her beautifully maned horses at full speed
in the evening; in mid-month brightest are her beams as she increases and her
great orbit is full. From the heavens she is fixed as a sure sign for mortals.
Once Zeus, the son of Cronus, joined in loving union with her; she became
pregnant and bore a daughter, Pandia, who had exceptional loveliness among
the immortal gods.
Hail, kind queen with beautiful hair, white-armed goddess, divine Selene.
From you I have begun and I shall go on to sing of mortal demigods whose
achievements minstrels, servants of the Muses, celebrate in songs from loving
lips.
Selene and Endymion. Only one famous myth is linked with Selene, and that
concerns her love for the handsome youth Endymion, who is usually depicted
as a shepherd. On a still night, Selene saw Endymion asleep in a cave on Mt.
Latmus (in Caria). Night after night, she lay down beside him as he slept. There
are many variants to this story, but in all the outcome is that Zeus granted
Endymion perpetual sleep with perpetual youth. This may be represented as a
punishment (although sometimes Endymion is given some choice) because of
Selene's continual absence from her duties in the heavens, or it may be the fulfillment
of Selene's own wishes for her beloved.
Apollo, Sun-God, and Artemis, Moon-Goddess. Many stories about the god of the
sun, whether he be called Hyperion, Helius, or merely the Titan, were transferred
to the great god Apollo, who shares with them the same epithet, Phoebus,
which means "bright." Although Apollo was, in all probability, not originally
a sun-god, he came to be considered as such. Thus Phaëthon may become
the son of Apollo, as sun-god. Similarly Apollo's twin sister Artemis became associated
with the moon, although originally she probably was not a moongoddess.
Thus Selene and Artemis merge in identity, just as do Hyperion, Helius,
and Apollo; and Selene and Artemis also are described by the adjective "bright,"
Phoebe (the feminine form of Phoebus).15 Therefore the lover of Endymion becomes
Artemis (or Roman Diana).






 Fontes:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Selene
O Livro de ouro da Mitologia - Thomas Bulfinch
Classical Mythology - Mark P.O Morford / Robert J. Lenardon


sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Romantismo

“O Romantismo teve início na Alemanha e na Inglaterra no final do século XVIII, passando pela França, e aos poucos se espalhou por toda Europa de onde se difundiu para a América.
O Romantismo permanece no cenário literário até por volta da primeira metade do século XIX,quando apareceram as primeiras manifestações realistas.”
Na Alemanha, destaca-se a obra romântica Werther, de Göethe e, na Inglaterra, sobressaem-se os poetas Samuel Taylor, Coleridge, Shelley, Lord Byron e Wordsworth.

Johann Wolgang Goethe   - Werther .    

"Juntei cuidadosamente tudo quanto me foi possível recolher a respeito do pobre Werther, e aqui 
vos ofereço, certo de que mo agradecereis. Sei, também, que não podereis recusar vossa admiração 
e amizade ao seu espirito e caráter, vossas lágrimas ao seu destino. 
E a ti, homem bom, que sentes as mesmas angustias do desventurado Werther, possas tu encontrar 
alguma consolação em seus sofrimentos! Que este pequeno livro te seja um amigo, se a sorte ou a 
tua própria culpa não permitem que encontres outro mais à mão! "

…haveria menos sofrimento entre os homens, se eles (…) não concentrassem toda a força de sua imaginação na lembrança dos males passados, e sim em tornar o presente mais suportável…” (pág 9)
“…a solidão é um bálsamo valioso para o meu coração…” (pág 10)
“…ser incompreendido é o destino de muitos de nós…” (pág 14)
“…a vida humana é apenas um sonho…” (pág 15)
“…quando vejo os limites que aprisionam a capacidade humana de ação e pesquisa; quando vejo que toda a atividade se esgota na satisfação de necessidades, cujo único propósito é prolongar a nossa pobre existência e, ainda, que toda a tranqüilidade em relação a certas questões não passa de uma resignação sonhadora, pois as paredes que nos aprisionam estão cobertas de formas coloridas e perspectivas luminosas… isso tudo, (…), me deixa mudo. Volto-me para dentro de mim mesmo e encontro um mundo! Mais pressentimentos e desejos do que de raciocínios e forças vitais. E, então, tudo flutua ante meus olhos, sorrio e, sonhando, penetro ainda mais neste mundo…” (pág 15 e 16)
“…Átonita, perplexa, viu-se à beira de um abismo; tudo era trevas ao seu redor, nenhuma esperança, nenhum consolo, nenhuma idéias de futuro! Pois ele a abandonou, ele que dava sentido a sua existência. Não via mais o vasto mundo a sua frente, nem aqueles que poderiam substituir quem ela perdeu, sentindo-se sozinha, abandonada por todos… Cega, oprimida pelo terrível vazio em seu coração, precipita-se para a morte, que tudo abarca, sufocando assim todos os seus tormentos…” (pág 58)


Samuel Taylor

Samuel Taylor Coleridge (Ottery St. Mary21 de Outubro de 1772 — 25 de Julho de 1834), comumente designado por S. T. Coleridge, foi um poetacrítico e ensaista inglês, considerado, ao lado de seu colegaWilliam Wordsworth, um dos fundadores do romantismo na Inglaterra.
Depois de publicar alguns poemas em 1796, escreveu, em parceria com o poeta William Wordsworth, Baladas líricas (1798), que se tornou um marco da poesia inglesa e em que se destaca a sua famosa Balada do antigo marinheiro, um dos primeiros grandes poemas da escola romântica. Mais tarde, escreveu o poema simbólico Kubla Khan e o poema místico-narrativo Cristabel.
Kubla Khan
Em Xanadu, fez Kubla Khan
Construir um domo de prazer:
Onde Alph, rio sacro, em seu afã,
Por grutas amplas e anciãs,
         Ia a um mar sem sol correr.
E as milhas dez de fértil terra
Cingiam-se em fortins de guerra:
E nos jardins corriam os canais
Por incenseiros sempre a florescer;
E bosques como os montes, ancestrais,
Que o verde ensolarado ia envolver.
         E, ah! a fraga romântica inclinada
         Outeiro abaixo, de um cedral frondoso!
         Visão selvagem! Sacra e encantada,
         Como a minguante, de uivos assombrada,
         Da jovem por seu infernal esposo!
         E um caos da fraga irrompe, fervilhando,
         Como se fosse a própria terra arfando,
         Estouram fortes fontes, que, em momentos,
         Num jato atiram colossais fragmentos:
         Em arco qual granizo ao chão caído,
         Ou grão com joio no mangual moído:
         E em meio às rochas nessa grande dança
         Perene, logo o sacro rio se lança.
         Por cinco milhas na dedálea ida,
         Por bosque e vale, o rio, em seu afã,
         Cruzando grutas amplas e anciãs,
         Afunda em ruído na maré sem vida.
         E nesse ruído Kubla veio ouvir
         A guerra, em voz profética, por vir!
         A sombra do domo de prazer
         Vai pairando sobre as vagas;
         Onde ouvia-se o som crescer
         Pelas fontes, pelas fragas.
Era um milagre do mais raro zelo,
Um domo ao sol com grutilhões de gelo!
         E o que em visão foi-me mostrado:
         Saltério à mão, com voz sonora,
         Era abissínia a donzela
         E, com seu saltério, ela
         Cantava sobre o Monte Abora.
         Se o seu canto e sinfonia
         Pudesse em mim eu reavivar,
         Tal júbilo me venceria
Que co’a canção iria, no ar,
Erguer o domo ensolarado,
O domo! O grutilhão glacial!
E a todos seria mostrado:
Diriam, Cuidado! Cuidado!
O olho em luz, cabelo alado!
O olhar cerre em temor freiral,
E três voltas teça ao redor,
Pois que ele sabe o sabor
Do mel, do leite Celestial.
(tradução de Adriano Scandolara)

Lord Byron
Um dos maiores nomes do romantismo, o poeta inglês Lord Byron (nascido em Londres, em 22 de janeiro de 1788) marcou a história da literatura com sua poesia pessimista. Verdadeiro rebelde das letras, ele desafiou as convenções morais e religiosas de sua época.
Byron tinha a reputação de ser alguém original, controverso e nada convencional. Mesmo assim, sempre se manifestava a favor da margem da sociedade, considerando a nobreza como uma classe de hipócritas. Talvez considerasse assim todos os homens, pois nunca escondeu sua paixão por animais, chegando a declarar: “quanto mais conheço os homens, mais quero a meu cachorro”.  “Boaswain” foi o nome de seu cachorro preferido, o qual gostava tanto que, após a morte do animal, dedicou-lhe os seguintes versos:
Aqui repousam
os restos de uma criatura
que foi bela sem vaidade
forte sem insolência
valente sem ferocidade
e teve todas as virtudes do homem
e nenhum dos seus defeitos.
Foi o ídolo de toda uma geração poética; Álvares De Azevedo? Seu “discípulo“.
Revoltado com os outros e com a sociedade. Assim podemos pontuar sobre Byron. Óbvio, sem jamais esquecer seu pessimismo romântico, o cinismo e os “elogios” [só que ao contrário] à moralidade e aos costumes religiosos. O mais interessante é que, na tentativa de transformar sua vida em seus escritos – ou seria o contrário? – ele se encheu de dívidas [por causa do seu modo de vida, sempre dando orgias e festas extravagantes].
Byron escandalizou a sociedade tanto com seus poemas quanto pela sua vida mundana. Mas, quem reduz o Lord e classifica-o apenas de tal maneira, está deixando muito conhecimento de fora. É tratado como um gênio da poesia e um dos maiores [se não o maior] romântico inglês. Criticava a sociedade de maneira exaltada, impetuosa e até violenta. Mas não há como negar, ficou conhecido, ao menos por aqui, pelo seu carácter poético ligado à tristeza da alma humana, à melancolia. Tudo é tedioso… até o amor."
"Não falo, não suspiro, não escrevo seu nome. Mas a lágrima que agora queima a minha face me força a fazê-lo"
Byron
"Estes fragmentos do poema A tempestade, de Lord Byron, foram traduzidos por Fernando Guimarães, em uma bela edição da Editorial Inova, do Porto, com o título Poesia romântica inglesa (Byron, Shelley, Keats). Meu exemplar foi comprado na livraria Poesia Incompleta (blog e perfil do Facebook), na Lapa, no Rio de Janeiro. Qualquer leitor interessado em poesia não pode se manter distante por muito tempo dessa casa de livros. Há outra edição do mesmo título, publicada pela Relógio d’Água. E claro, trata-se de um dos mais belos poemas já escrito desde que o homem inventou o verso:"
Estão calmos o céu e a terra – mas não adormecidos;sem ânimo, como nós sob o efeito das grandes paixões,
e tão silenciosos como se despertássemos de profundos
                                       pensamentos.
Estão calmos o céu e a terra; desde as altas hostes
das estrelas ao lago tranquilo e às margens montanhosas,
tudo se concentra numa vida intensa
onde nem uma folha, uma brisa, um reflexo se perdem,
pois todos são uma parte do ser, do sentimento
daquele que de tudo é Criador e defensor.
Agita-se assim a emoção do infinito, sentida
neste abandono em que o homem está menos sozinho;
a verdade que em todo o nosso ser se funde
e nos purifica de nós mesmos é um acorde,
alma e fonte da música que nos ensina
a eterna harmonia, derramando um encantamento
lendário, como a cintura de Vénus,
que reúne tudo pela beleza, e desafiaria
a Morte, se tivesse o verdadeiro poder de destruir.
Não foi sem razão que os antigos Persas edificaram
as aras nos mais elevados lugares, no cume
das montanhas que contemplar a terra, e assim
                                      escolhem
um templo verdadeiro e sem muralhas, onde encontram
o Espírito – e nunca em santuários que as nossas mãos
constroem em seu louvor. Vinde então comparar
colunas e altares de ídolos, góticos ou gregos,
com os lugares sagrados da Natureza, a terra e o ar,
e não vos confineis a templos que limitam as vossas
                                     preces.
O céu mudou-se – e que transformação! Oh noite,
tempestade, trevas, sois surpreendentemente fortes,
embora sedutoras no vosso poderio, como o brilho
dos olhos sombrios duma mulher! Ao longe,
de monte em monte, entre os ecos dos rochedos
o trovão vibra. Não é duma única nuvem que vem,
mas cada montanha encontrou agora a sua linguagem,
e o Jura responde, com o seu manto de neblina,
aos jubilosos Alpes, cujo apelo ressoa vivamente.
Tudo chegou contigo – noite tão gloriosa,
a que não se destinam os nossos sonhos; deixa-me
                                     partilhar
do teu violento, longínquo encantamento
uma parte da tempestade e de ti mesma, noite!
Ah, como resplandece o lago, um fosfórico mar,
e a chuva é impelida e abate-se sobre a terra!
Mais uma vez tudo é escuridão – e, agora, a alegria
das colinas sonoras freme com todo o excesso
que delas nasce como se fosse um novo cataclismo.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

SARAMAGO

Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.2 A 24 de Agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de Dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.3
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco RebelloArmindo MagalhãesManuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
O 29 de Junho de 2007 constitui a Fundação José Saramago para a defesa e difusão daDeclaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente.4 Em 2012 aFundação José Saramago abre as suas portas ao público na Casa dos Bicos em Lisboa, presidida pela sua mulher Pilar del Río.
No romance Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, a cegueira descrita é representada através de inúmeras metáforas. Já no início da narrativa as personagens são acometidas pelo chamado "mal branco", impossível de ser diagnosticado como um dos tipos já conhecidos de cegueira. Considerando a cegueira como metáfora, ao longo deste romance Saramago tenta explicar como as pessoas vão se tornando cegas no mundo contemporâneo, como inexplicavelmente ocorreu com o primeiro cego, primeira personagem apresentada na narrativa, que cegou quando conduzia o seu automóvel: de repente a realidade tornou-se indiferenciada à sua volta.
Quando o "primeiro cego" chegou ao consultório do oftalmologista para tentar descobrir uma solução para o seu problema de visão, o médico considerou o caso urgente e passou-o à frente dos demais pacientes que aguardavam pela consulta. Porém, a mãe de um menino que aguardava sua vez não se sensibilizou diante da urgência do paciente inesperado e "...protestou que o direito é o direito, e que ela estava em primeiro lugar, e à espera a mais de uma hora. Os outros doentes apoiaram-na em voz baixa, mas nenhum deles, nem ela própria, acharam prudente insistir na reclamação, não fosse o médico ficar ressentido e depois pagar-se da impertinência fazendo-os esperar ainda mais" (EC: 22)

José Saramago

As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler” 
José Saramago

Afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte.
José Saramago

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A busca pela sabedoria....

Sabedoria ou sapiência (em grego Σοφία, "sofía") é o que detém o "sábio" (em grego σοφός, "sophos"). Desta palavra derivam várias outras, como por exemplo, φιλοσοφία -"amor à sabedoria" (filos/sofia).
Há também o termo "Phronesis" - usado por Aristóteles na obra Ética a Nicômaco para descrever a "sabedoria prática", ou a habilidade para agir de maneira acertada".
É um conceito diferente de "inteligência" ou de "esperteza".
Mesmo para "sophia" há conceitos diferentes: muitos fazem distinção entre a "sabedoria humana" e a "sabedoria divina" (teosofia).

Enquanto é enorme e de grande mérito a publicação,
e de incomparável qualidade o estudo da sabedoria da
Cabala. Embora eles não saibam o que estão estudando, é o
tremendo desejo em entender o que eles estão estudando
que desperta as luzes circundantes de suas almas.
Rabino Yehuda Ashlag.
“Introdução ao Estudo das Dez Sefirots”
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O Dhammapada é o texto mais conhecido e o mais respeitado do Tipitaka Pāli, as Sagradas Escrituras do Budismo Theravada. A obra está incluída no Khuddaka Nikaya (“Colecção Menor”) do Sutta Pitaka, mas a popularidade que ganhou elevou-a para as fileiras de um clássico do mundo religioso, muito acima do simples lugar que ocupa nas escrituras. Composta em antigo idioma pāli, esta sucinta antologia de versos constitui um compêndio perfeito de ensinamentos do Buddha, compreendendo em sua dissertação todos os princípios essenciais elaborados ao longo dos quarenta e tantos volumes do Cânone Pāli. De acordo com a Tradição Budista Theravada, cada verso do Dhammapada foi originalmente proferido pelo Buddha como respostas a episódios específicos. Relatos destes, juntamente com a exegese dos versos são preservados no comentário clássico da obra, compilados pelo grande erudito Bhadantacariya Buddhaghosa no século V a.C., assente em textos que remontam a tempos muito antigos.
" A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente pura, a felicidade segue-a como uma sombra que jamais a abandona."


A sabedoria não se transmite, é preciso que a gente mesmo a descubra depois de uma
caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar, e que ninguém nos pode evitar, porque a

sabedoria é uma forma de ver as coisas. (PROUST, 1984, p.339)

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 Em seu ensaio autobiográfico “Trotsky e as orquídeas
selvagens”, Rorty descreve com vivacidade o encantamento provocado por esta descoberta:
Era o regojizante compromisso com a temporalidade que Hegel e Proust compartilhavam – o
elemento especificamente antiplatônico em suas obras – que parecia tão maravilhoso.
Ambos pareciam capazes de tecer todas as coisas que encontravam em uma narrativa sem

solicitar uma moral para tal narrativa, e sem perg

terça-feira, 22 de julho de 2014

Parmênides

ParmênidesParmênides

Biografia: Parménides de Eleia foi um filósofo grego. Nasceu entre 530 a.C. e 515 a.C. na cidade de Eleia, colónia grega do sul da Magna Grécia, cidade que lhe deveu também a sua legislação.





Parmênides é um filósofo que expôs seus pensamentos através da poesia em estilo homérico.
Utiliza rigorosos argumentos dedutivos em seus pensamentos.
Fundador da escola de Eléia e despertou muita admiração de Platão.

Restaram de seus poemas 154 versos e eles dividem-se em três partes.

A primeira é uma introdução onde ele coloca como chegou às suas revelações.
Ele nos conta a sua viagem imaginária pela morada da deusa da justiça que o conduzirá ao coração da verdade.

A deusa mostra a Parmênides o caminho da opinião que conduz à aparência e ao engano e o caminho da verdade que conduz à sabedoria do ser.

Cada um desses caminhos será tratado nas duas  partes seguintes.

Na segunda parte ele argumenta que o que é é diferente do que geralmente os homens supõem que seja.

Nessa parte, intitulada Caminho da Verdade (alétheia), ele coloca o que a razão nos diz e ele faz isso através da metafísica dedutiva.

Inicia por premissas que ele acredita serem verdadeiras e por dedução chega a resultados que também devem ser verdadeiros.

Seus argumentos lógicos reconstruídos:

1 - Ou algo existe ou algo não existe.
2 - Se é possível pensar em algo, esse algo pode existir.
3 - Nada não pode existir.
4 - Se podemos pensar em algo esse algo não é nada.
5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.
6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.

Na sequencia Parmênides expõe que somente nos resta dizer que esse algo é, pensar ou dizer que esse algo não é é impossível. Esse algo que é tem portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecível.

Alguns trechos do livro >

1 Vê como ausentes , no entanto, presentes firmemente em pensamento;
2 pois este não apartará o ente do manter-se ente
3 nem se dispersando de toda forma todo pelo mundo,
4 nem se concentrando.

"Clemente, ao citar Parmênides, interpreta livremente as coisas ausentes como as
coisas futuras que ganham presença na esperança do pensamento, conforme a teologia
cristã. Mas no contexto da fala da Deusa as coisas só podem estar ausentes segundo a
opinião dos mortais, sendo presentes quando pensadas com firmeza, pois só há o ente.
Couloubaritsis propõe que este fragmento seja situado na conclusão do discurso das
opiniões, como a chave que reúne esse discurso diacósmico ao pensamento do ser,
proferido na primeira parte da fala divina (Cf. Mythe et philosophie chez Parménide,
1986). Para Marcelo P. Marques “as coisas ausentes, justamente estas coisas que estão à
nossa volta (ou coisas que não são), se tornarão, não propriamente o ser, mas coisas
presentes, isto é, que de algum modo se relacionam com o ser (para-eónta). O modo
inteligente de olhar aproxima coisas distantes (ou seja, não-seres) do ser, tornando-as,
de certa forma, presentes.” Cf. o artigo “Relendo o fragmento 4 de Parmênides”, no
Vol. II desta publicação."

1 Comum porém, é para mim,
2 de onde começarei; pois lá mesmo chegarei de volta outra vez.
"A posição deste fragmento varia segundo o editor. O próprio Diels antes de posicionálo
como quinto, o colocou em terceiro. Barbara Cassin, p. ex., o põe logo depois do
primeiro fragmento. De fato, ele refere-se à indiferença de começar por um ou outro dos
dois caminhos, que já são enunciados desde I, 29-30. Se os dois caminhos são
convergentes e tendem ao encontro, é que, no fundo, trata-se de um único caminho
circular em que, de qualquer ponto, de um ponto comum, saem dois caminhos de
sentido inverso e ambos retornam ao mesmo lugar. Por isso mesmo, este fragmento
pode situar-se em qualquer parte do Poema, de que se fale dos dois caminhos de
investigação.
Xynon é uma palavra densa de conotações, se lembrarmos de seu uso também em
Heráclito, em que determina isto mesmo que é o pensar. O núcleo semântico é a
preposição “syn” que significa “com”, trata-se do “sendo com” que reúne, converge,
comunga e torna indiferente, no sentido etimológico dessa palavra: “o que não separa”.
Tem também a idéia de continuidade e meio comum, que aparece em B XI em que é o
epíteto da palavra Éter. Xynon é um adjetivo, pelo desconhecimento da parte perdida do
verso, seguimos a sintaxe ditada por Proclo, que o cita; assim, lemos que o ponto de
partida é comum. Pensamos, obviamente, no ponto de partida das vias de conhecimento.
Proclo cita estes versos depois do verso 25 de B VIII, em que é dito que o ente é todo
contínuo. A repetição em B XI reforça essa idéia de continuidade. Isso pode explicar
porque qualquer ponto de partida é indiferente, não apenas o das vias de conhecimento,
mas efetivamente o de qualquer jornada, pois o próprio deslocamento seria uma ilusão,
quando se encontra o lugar de onde se partiu."
1 É preciso que o dizer o pensar e o que é seja; pois há ser,
2 mas nada não há; isto eu te exorto a indicar.
3 Pois [____] desta primeira via de investigação,
4 em seguida daquela em que mortais que nada sabem
5 forjam, bicéfalos; pois despreparo guia em frente
6 em seus peitos um espírito errante; eles são levados,
7 tão surdos como cegos, estupefatos, hordas indecisas,
8 para os quais o existir e não ser valem o mesmo
9 e não o mesmo, de todos o caminho é de ida e volta.
A proposição em parataxe abre uma gama de interpretações e traduções possíveis.
Buscamos a que apresentasse a forma quase assindética da sucessão de verbos de modo
mais simples e direto, no sentido integrante de “dizer o que pensa e o que é” como a
ponte da verdade, que vai do ente e do pensamento até a fala. Segundo a correção de
Karsten, adotada por Diels, o verso ficaria assim: “É preciso dizer e pensar que o ente é,
pois é ser.” Diels ainda acresenta em sua tradução “nur”: “que somente o ente é”.
Diels ed. : [afasta-te]; Cordero ed. : [parte]. A opção, entre a conjectura de Diels ou a
de Cordero, para preencher esta lacuna dos manuscritos determina a existência de três
ou dois caminhos de investigação. A opção pelos dois caminhos de conhecimento que
devem ser percorridos pelo sábio, o da verdade e o das aparências (Cordero), nos parece
mais coerente com o todo do Poema, do que os dois caminhos enganosos, do não ser e
das aparências, de que ele deve se afastar para percorrer o único caminho da verdade
(Diels). Deixamos a lacuna, primeiro, por fidelidade aos textos dos manuscritos,
segundo, para que o leitor possa experimentar por si as diversas conjecturas e suas
conseqüências para a interpretação do Poema.
forjam: DEF, Diels; erram Ald.
Cf. vs. 5.2.


Parmênides, Da Natureza

Os corcéis que me transportam, tanto quanto o ânimo me impele, 
conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso 
da divindade, que leva o homem sabedor por todas as cidades. 
Por aí me levaram, por aí mesmo me levaram os habilíssimos corcéis, 
puxando o carro, enquanto as jovens mostravam o caminho. 
O eixo silvava nos cubos como uma siringe, 
incandescendo (ao ser movido pelas duas rodas que vertiginosamente 
o impeliam de um e de outro lado), quando se apressaram 
as jovens filhas do sol a levar-me, abandonando a região da Noite 
para a luz, libertando com as mãos a cabeça dos véus que a escondiam. 
Aí está o portal que separa os caminhos da Noite e do Dia, 
encimado por um dintel e um umbral de pedra; 
o portal, etéreo, fechado por enormes batentes, 
dos quais a Justiça vingadora detém as chaves que os abrem e fecham. 
A ela se dirigiram as jovens, com doces palavras, 
persuadindo-a habilmente a erguer para elas 
por um instante a barra do portal. E ele abriu-se, 
revelando um abismo hiante, enquanto fazia girar, 
um atrás do outro, os estridentes gonzos de bronze,
fixados com pregos e cavilhas. Por aí, através do portal, 
as jovens guiaram com celeridade o carro e os corcéis. 
E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão 
direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: 
“Ó jovem, acompanhante de aurigas imortais, 
tu, que chegas até nós transportado pelos corcéis, 
Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar 
por este caminho – tão fora do trilho dos homens –,
mas o Direito e a Justiça. Terás, pois, de tudo aprender: 
o coração inabalável da verdade fidedigna 
e as crenças dos mortais, em que não há confiança genuína. 
Mas também isso aprenderás: como as aparências 

têm de aparentemente ser, passando todas através de tudo”.